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No preparo do emboço era muito comum utilizar uma mistura constituída por cimento, areia e barro. O barro funciona como liga, dando plasticidade à mistura, facilitando o espalhamento e a aplicação da argamassa. Mas o uso do barro se dá mais por questões "econômicas", pois é barato, aliado ao fato de ser encontrado com certa facilidade na natureza. No entanto, o uso do barro é uma cultura enraizada que deve ser cortada pela raiz. A razão é simples: argamassas executadas com o uso de barro têm baixa resistência e durabilidade, pois o barro se comporta de maneira negativa em presença de umidade, sofrendo expansões e contrações que provocam o surgimento de fissuras e a desagregação do revestimento.
Então, qual seria o substituto ideal para o barro? A resposta é também simples, ou seja, a cal hidratada, um aglomerante que adiciona vários benefícios à uma argamassa.
Para entender os benefícios da cal é interessante conhecer um pouco do processo de obtenção da mesma, que tem início com a extração de rochas carbonatadas. Para rochas carbonatadas de calcário (variedade de rocha onde o constituinte principal é o carbonato de cálcio), o agregado obtido é submetido à ação do calor (processo denominado calcinação) em fornos apropriados, com temperatura entre 850 e 1200ºC. Nesta reação química, o carbonato de cálcio, sob a ação do calor, se decompõe, formando o óxido de cálcio (CaO) e o dióxido de carbono (CO2), sendo que este gás se desprende resultando basicamente a cal (carbonatação). A equação química abaixo ilustra a reação ocorrida nesta fase.
A chamada cal virgem, também denominada cal viva ou cal ordinária, é o produto inicial resultante da queima de rochas calcárias, composto predominantemente dos óxidos de cálcio e magnésio. Já a cal hidratada, como o próprio nome sugere, é uma combinação da cal virgem com água. Ou seja, CaO + H2O -> Ca(OH)2 ou di-hidróxido de cálcio. Tem propriedades aglomerantes como o cimento, com a diferença de que o cimento, para endurecer, reage com a água e a cal com o ar. É a chamada cal aérea, enquanto o cimento recebe o nome de aglomerante hidráulico.
A cal, assim obtida, ainda não está pronta para ser utilizada, necessitando passar por um processo de moagem, sendo então misturada com água em proporções adequadas. Deste processo resulta o hidróxido de cálcio (cal hidratada), cuja equação química é mostrada abaixo.
Quando a cal hidratada é utilizada no preparo de uma argamassa e posteriormente aplicada, ocorre a seguinte reação: a água excedente evapora e o dióxido de carbono presente na atmosfera penetra no revestimento, resultando na formação da "rocha carbonatada".
A equação química que ilustra o processo acima é representada abaixo para a cal hidratada derivada de rochas carbonatadas.
Pelo que foi ilustrado acima, percebemos que a cal hidratada retorna à sua condição primitiva que era a de rocha cálcaria, resultando assim, em um produto final (argamassa) estável e resistente. Notamos também que o endurecimento se processa de forma lenta e de fora para dentro, requerendo uma superfície com uma certa porosidade para permitir a evaporação da água excedente e, ao mesmo tempo, permitir penetração do dióxido de carbono presente na atmosfera. Pelo fato do endurecimento ser lento é adicionado cimento à mistura, que promove a aderência e resistência inicial do revestimento.
Paredes revestidas com argamassas contendo cal hidratada não podem ser pintadas imediatamente após o término dos serviços. É necessário um tempo de cura (mínimo de 30 dias) para que o revestimento ganhe resistência, pois a tinta forma uma película "impermeável" que dificulta a evaporação da água e a penetração do gás carbônico, resultando assim em um revestimento fraco e de pouca durabilidade. Esta observação deve ser seguida para outros tipos de revestimentos decorativos.
A cal hidratada é um produto em forma de pó seco, comercializada em embalagens (sacos) de 20kg ou mais, sendo classificada de acordo com sua composição química em: CH-I, CH-II e CH-III.
CH-I: quando constituída essencialmente de hidróxido de cálcio ou de uma mistura de hidróxido de cálcio e hidróxido de magnésio, com teor de gás carbônico igual ou menor que 5%.
CH-II: quando constituída essencialmente de uma mistura de hidróxido de cálcio, hidróxido de magnésio, e óxido de magnésio, com teor de gás carbônico igual ou menor que 5%, sem limites para os teores de óxidos não hidratados.
CH-III: quando constituída essencialmente de uma mistura de hidróxido de cálcio, hidróxido de magnésio e óxido de magnésio, com teor de gás carbônico igual ou menor que 13%.
Benefícios de uma argamassa contendo cal hidratada
- Argamassas mistas (cimento-cal-areia) apresentam resistência mecânica e ação impermeabilizante superior às argamassas onde o aglomerante cal é substituído por barro;
- A cal confere ótimo poder de sustentação da areia. Isto significa ausência de segregação e facilidade de manuseio e aplicação de argamassas contendo cal hidratada;
- Revestimentos feitos com o uso da cal são mais estáveis e duráveis, além disso a cor clara contribui para um melhor isolamento térmico;
- Ganho de resistência e compacidade (redução do volume de vazios) com o tempo;
- A cal tem poder bactericida.
Certamente, para se obter uma argamassa mista (cimento, cal e areia) resistente e durável, seja para o revestimento de paredes ou assentamento de componentes (tijolos cerâmicos, blocos de concreto, blocos de concreto celular autoclavado, etc), é necessário o uso de materiais adequados dentro de uma dosagem racional. Cuidados no preparo da superfície e atendimento às boas normas de engenharia devem ser observados.
Quando for comprar cal hidratada, verifique na embalagem se há o selo da ABPC (Associação Brasileira dos Produtores de Cal). Este selo indica que o produto é adequado para a finalidade a que se propõe, garantindo que a cal é fabricada em obediência à composição química estabelecida pela norma brasileira NBR-7175.
Atenção: NUNCA utilize cal virgem (sem queimá-la) no seu traço para projeção. Queime a cal por pelo menos 48 horas antes da utilização.
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